Solimar Silva
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Textos
Burocracias – ossos do ofício de professor
 
          Quem tem apenas dois tempos de aula com alunos adolescentes talvez sinta mais na pele a questão da burocracia sobre a qual vou falar aqui. Mas, o fato é que nenhum professor está livre dela. É tanto papel, tantos rituais que, às vezes, até dá tempo de ensinarmos.
          Primeiro você precisa fazer um plano de ensino para o ano todo. Muitas vezes, isso se dá sem você conhecer a turma e, consequentemente, você já começa com um plano que já tem que ser descartado no primeiro dia de aula. Daí, você tenta fazer outro, para dar conta da realidade da turma.
          Se houve aluno retido no ano anterior, tem lá o plano de estudos da progressão parcial ou dependência. É um plano do que o aluno supostamente deveria fazer durante o ano para recuperar o conteúdo e nota da disciplina em que ele ficou retido. Supostamente. Isso porque o aluno nunca vai procurar pelo professor e vai ignorar completamente a folha que você levou horas para produzir.
          Geralmente tem o item mais odiado dentro do magistério: o diário! Sim, diário de papel, um para cada turma. Nele você tem que anotar datas, fazer a chamada (preferencialmente no dia da aula, claro), anotar os instrumentos de avaliação, lançar as notas dos alunos nesses instrumentos, evitando rasuras, letra feia, fazendo mágica para a sua letra caber em quadrinhos minúsculos. Inclusive, você passa a perceber que precisa aumentar a lente dos óculos a cada ano, pois já não enxerga mais nada.
          Mas, ainda no item diário, tem que lançar faltas e notas dos alunos naquele bimestre para o canhoto, que é destacado e entregue à coordenação ou secretaria. Além disso, tem escolas que ainda colam uma folha lá no fim do diário, para você transportar, bimestralmente todas as notas e faltas dos alunos. O problema é que você ignora essa folha o ano inteiro. Só consegue se lembrar dela na véspera do conselho de classe, quando precisa entregar o diário todo em dia. E passa a noite em claro corrigindo as provas do último bimestre, lançando nota, fazendo contas e fechando os benditos diários.
          E quem disse que para por aí? A cada bimestre você precisa fazer um relatório da turma. Esse relatório deve incluir perfil da turma, nível de maturidade, o que foi feito durante o bimestre, que estratégias de ensino foram usadas, como os alunos se saíram, o que o professor fez para melhorar como eles se saíram, o que será feito no próximo bimestre e inúmeras outras orientações para você preencher as quarenta e cinco linhas do relatório.
          E por falar em relatório, no final do ano você quase desiste de deixar reprovado o aluno que não fez nada o ano inteiro. Isso porque você tem preencher um relatório, aluno por aluno, dizendo as razões pelas quais aquele anjo ficou retido. Você abre o diário e vê que ele não compareceu, quando compareceu não copiou a matéria, não fez o exercícios, não apresentou as tarefas avaliativas, não prestou atenção, não, não e mais uma dezena de nãos. Ah, mas ele está de férias enquanto você preenche outro relatório.
          Sem contar assinaturas em atas de conselho de classe que você dá sem ler, pois está fechando o diário durante o conselho.
          É tanto papel, tanta assinatura, tanto escreve, apaga, conserta, reescreve, que me pergunto como conseguimos tempo para dar aulas e realizar projetos tantos projetos.
          Ah, sim, eu me lembrei como damos conta: a maior parte dessa burocracia é realizada em horas extras não remuneradas, durante os finais de semana e feriados...



Imagem disponível em: http://profeanaclaudialucas.blogspot.com.br/2011_04_01_archive.html
 
Solimar Silva
Enviado por Solimar Silva em 13/09/2014
Alterado em 08/05/2020
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